domingo, 28 de novembro de 2010
V Salão UFRGS Jovem
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte IV
Entramos em contato com a atriz Tuane Eggers, que interpreta a personagem Jingle Jangle, que aceitou comentar alguns tópicos relacionados à representação da juventude no cinema, ao filme “Os Famosos e os Duendes da Morte” e também expressou sua opinião sobre o trabalho que vem sendo realizado no blog.
“Em primeiro lugar, parabéns pelo blog de vocês. Gostei da forma que vocês falam sobre os filmes, detalhando aspectos importantes e esclarecendo algumas coisas que talvez para outras pessoas não ficaram tão claras. Muito legal!”
A personagem Jingle Jangle e a sua realidade.
A Jingle Jangle é, em primeiro lugar, uma personagem misteriosa. Antes do suicídio, quis deixar sua marca em um lugar inabitável – e imutável. Enquanto era sufocada por um plástico, sorria. Acho que o maior mistério é esse: ela parecia tão bem com Julian, mas ao mesmo tempo, a dor era maior do que todo o prazer que poderia encontrar. Acho que tudo isso está no fundo de mim, retratada nas coisas que faço. O prazer e a beleza nas pequenas coisas, mas a dor está sempre por lá – como em todos nós.
A dificuldade de o jovem encontrar o seu lugar no mundo. Por que o suicídio teria sido a solução?
A adolescência é uma fase complicada. É quando quase nada basta para amenizar o desconforto em relação ao mundo. É quando você descobre que pode tirar a sua própria vida e isso começa a ser um tipo de convite/desafio/vertigem. Não digo que o suicídio é ou foi uma solução, mas é um “lugar” onde a dor acaba – para os fracos e para os fortes.
A relação da juventude com a internet.
A internet é uma coisa muito nova, algo que mudou a vida das pessoas em relação ao tempo e espaço. Talvez a - tão bela - frase do Ismael Caneppele “Estar perto não é físico” não teria tanto sentido se a internet não existisse. Você pode não ver, não estar perto, mas você se sente em contato por meio daquele portal.
E é uma coisa meio mágica porque você pode criar o seu mundo lá. Uma imagem sua de uma forma diferente. Confesso que é dessa forma que eu a utilizo – criei um mundo lá, com as minhas fotos e vídeos. A internet permite várias máscaras, mas isso pode ser um pouco perigoso.
Há uma cena do filme, quase no fim, onde a sua personagem “aparece” e interage com o menino sem nome e o Julian. O que ela significa? Poderia comentar algo sobre o relacionamento entre Julian e Jingle Jangle?
Pergunta difícil, pois ela não possui uma interpretação única. É algo tão sensitivo que acredito que cada pessoa entendeu de uma forma distinta. Algumas pessoas viram aquela cena como bissexual, mas eu a vejo como muito além disso. Às vezes penso que Julian e Jingle Jangle eram partes do próprio menino sem nome. O seu lado feminino e masculino. As suas dúvidas e dores. Aquela cena foi uma espécie de transe decisivo – para o que? É mais um mistério.
A aceitação do filme pelo público jovem
Me surpreendi muito com o sucesso do filme com o público jovem. Acho que foi porque houve muita identificação. Mesmo a história sendo em uma cidade do interior, o sentimento de desconforto é geral quando você é adolescente. Assim como as dúvidas, dores, incertezas...
A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)
Foi muita coincidência terem sido produzidos três filmes nacionais com essa temática ao mesmo tempo. Ou, nem tanta coincidência assim. Talvez tenha se percebido a importância de falar sobre jovens e as novas questões. Não era uma temática muito abordada, acho que aconteceu no momento certo.
Gostaríamos muito de agradecer Tuane pela simpatia e boa vontade em responder essas perguntas e de divulgar, novamente, o seu trabalho como fotógrafa no site www.flickr.com/uncolortv. Vale e pena conferir!
2. Henrique Larré
Henrique Larré, o menino sem nome, protagonista de "Os Famosos e os Duendes da Morte", se disponibilizou em ajudar-nos comentando alguns tópicos relacionados a filme e ao que pudemos observar sobre a representação da juventude nesta obra-prima do cinema brasileiro. Além dos comentários, expôs sua opinião acerca do trabalho que está sendo realizado pelo Habeas Corpus da Juventude:
“Adorei o Blog, for real! A idéia de vocês é super interessante, e não é nada convencional. Blogs sobre cinema existem vários, fazendo críticas e tudo mais, mas blogs que "dissecam" filmes, explicando cena por cena, como o de vocês.. nunca havia visto.
Tem filmes que pedem uma passada no google pra achar um esclarecimento... eu mesmo fiz isso algumas vezes (assistindo filmes do Lynch, por exemplo)
Parabéns pela idéia e pelo modo como vocês conduzem o blog! :)”
O menino sem nome e a sua realidade
O menino sem nome tem muito de mim. Fizemos uma espécie de empréstimo... Dei à ele algumas coisas minhas, e ele retribuiu. Passei por algumas situações pelas quais ele passa, pensei como ele algumas vezes... Muito do universo dele, foi meu em algum momento. Tenho certeza que muitos adolescentes que assistiram o filme se identificaram porque são questões absolutamente naturais.
Mas acho que encontramos uma saída!
A relação da juventude com a internet
A internet é parte dos jovens dessa geração. É um meio cheio de possibilidades.
Você pode fazer/ser tudo, pela web. Eu tenho uma relação muito intensa com a internet (afinal de contas, recebi o convite pra fazer teste pra um filme, via fotolog. haha) Desde os meus onze anos eu acesso a internet praticamente todos os dias.. Já tive todos os tipos possíveis de redes sociais e hoje uso a internet pra trabalho e pra me manter atualizado. É triste, mas como mostra no filme, existem jovens que usam a internet como uma forma de escape. A única alternativa que alguns tem de fugir de sua vida real, que nunca é fácil e quase sempre não sabemos lidar com isso. Eu fui assim um dia.
A necessidade de uma amizade
Na verdade acho que o Diego é, pro menino sem nome, o único "link" com a realidade daquele lugar. O amigo é completamente oposto à ele, e mesmo assim eles tem uma amizade muito forte. Na cena da "carta final" (que foi excluída na edição final, mas que pode ser vista nos extras do DVD) o Mr. Tambourine fala "eu gostaria que você fosse mãe de qualquer outro garoto dessa cidade, talvez assim tu tivesse mais chance de ser feliz". Acho que parte dele, quer ser como a maioria dos meninos do "cu do mundo", ser como o Diego.. e por isso ele tem até um tipo de admiração por aquele menino que é completamente conformado com a vida que leva ali. Seria menos doloroso ser como o Diego, eu acho.
A dificuldade de diálogo entre as gerações
A dificuldade de diálogo entre gerações é bem presente no filme. Tem uma cena que pra mim é a mais explícita nesse sentido, que é quando o menino vai visitar os avós, e o avô ao chegar ali o cumprimenta com um "oi" completamente desconfortável. É bem esquisita a cena, na maioria das vezes que fui ao cinema pude perceber que as pessoas acham bem engraçado. É nítido que existe uma barreira enorme entre eles ali.
A aceitação do filme pelo público jovem
A aceitação do filme foi uma grata surpresa pra mim. Logo no começo de todo o processo, quando eu recém havia ganho o papel, não fazia a mínima noção do que era esse filme, e da dimensão dele. Não acreditava quando o Esmir falava que o filme seria exibido no país inteiro, e provavelmente em muitos lugares do mundo. Ao longo do processo fui descobrindo Os Famosos e os Duendes da Morte, e de fato pensava que, apesar de ser um filme com temática adolescente, ele talvez não fosse muito bem aceito pelos mesmos..
Ok, subestimei uma geração que sem dúvida é muito além do que muitos pensam.
Acontece que hoje muitos adolescentes me procuram no twitter, facebook etc, pra dizer que adoraram o filme e que se identificaram e tal. É brilhante ler o que as pessoas sentem ao assistir Os Famosos.. eu tô sempre tentando acompanhar esse tipo de coisa.
A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)
Fico muito feliz com essa "onda" de filmes voltados pro público adolescente. Aliás, que falam sobre adolescentes, mas que na verdade são pra qualquer tipo de público.
A adolescência é uma fase muito importante na vida de uma pessoa. Adolescentes são muitos interessantes e podem render ótimas histórias. Espero que isso continue, temos muitas histórias ainda a serem contadas.
Henrique, sabemos que foi difícil disponibilizar o seu tempo curto para responder essas perguntas, então, queremos muito agradecer pela sua grande ajuda e apoio neste projeto. Muito obrigado!
domingo, 3 de outubro de 2010
Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte III
1. Conversa no MSN entre “Mr. Tambourine Man” e “E.F”; ou seja, entre o menino sem nome e Esmir Filho, o próprio (e real) diretor do filme, que aparece explicitamente na foto a seguir, presente no blog que foi enviado para o garoto.
Mr. Tambourine Man diz:
É muito longe de mim…
E.F diz:
Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade.
Esmir Filho aprofunda/complementa as palavras do menino, dando outro sentido a elas e deixando claro, logo no início do filme, a dificuldade do jovem em se encaixar no lugar em que vive, já que o lugar a que ele pertence e poderá viver de verdade não é aquele.
Em outro diálogo, que aparece ao longo do filme, o diretor aparece como quase que cumprindo seu verdadeiro papel de orientar o ator, mas de uma forma paternal, como os pássaros que mostram para seus filhotes a libertação de “voar”.
*Ao descobrir que é Esmir Filho o tal “E.F”, parece uma espécie de piada o trecho “Tu é quem manda”.
Mr. Tambourine Man diz:
Às vezes eu tenho nojo de mim!
E.F diz:
Eu também já senti isso!
Mr. Tambourine Man diz:
Queria que tudo acabasse de uma vez!
E.F diz:
Como? A ponte???
Mr. Tambourine Man diz:
Tu é quem manda!
E.F diz:
Voe para longe!
Acima, um detalhe do msn do menino sem nome, o "Mr. Tambourine Man". Os contatos são divididos entre as categorias "Longe Daqui" (onde muitos se encontram online) e "Cu do Mundo" (onde todos estão offline).
2. Diego (D) e “menino sem nome” (T) fumando maconha nos trilhos durante a madrugada.
T- Parece que eu demorei um ano pra fazer isso.
D- O que?
T- Isso de guardar.
D- Pior né, cara? Porra, nem parece que passou tanto tempo.
T- Não passou.
D- Cara, então porque tu disse?
T- Que que eu disse?
D- Isso do tempo.
T- Eu não disse, eu só achei.
As estrelas do teto do menino sem nome contrastam com a imagem dos dois amigos abobados com o efeito da droga, como se todas as estrelas passassem a brilhar por ambos estarem “no brilho”, praticamente em outro lugar que não aquela cidadezinha. A droga os libertava do tédio - comum na vida de um adolescente que sonha em aproveitar cada momento e se vê perdido no “nada”.
*Antes, é importante salientar que apenas uma estrela de seu quarto brilhava.
No diálogo acima, mesmo que as consciências estivessem afetadas pelo efeito da droga, podemos notar que eles perdem a noção de tempo em suas vidas pacatas.
3. Diego (D) e garoto sem nome (T) conversando enquanto caminham numa estrada de terra.
T- Tá tudo certo, vamo?
D- Quê?
T- A parada, aquela.
D- Que parada, piá?
T- Cara, o show do Bob Dylan que eu te falei.
D- Tá, que que tem?
T- Tá tudo certo, vamo comigo?
D- Tá louco, meu?
T- Cara, aventura!
D- Não viaja, piá. Acorda, porra!
T- Tu tem que ir comigo.
D- Meu, eu vou na festa junina comer a irmã do Paulinho, cara. Eu preciso, eu não agüento essa internet.
O menino sem nome cansa de pesar conseqüências quando a única coisa que precisa é sair dali. O show do Bob Dylan não é apenas uma desculpa, mas um sonho que engloba o ideal de aventura, de movimento e, principalmente, de mudança.
O próprio título da obra faz referência à influência dos famosos (ídolos) na vida do menino. Os ídolos trazem, através de letras de músicas, melodias, poesias, escritos ou até pela aparência, um molde de um novo mundo inusitado, um mundo individual, porém compartilhado – e isso dá a oportunidade, principalmente para os jovens, de enxergarem pelos olhos de outra pessoa (um herói) o desconhecido.
4. A mãe (M) entra no quarto dele (T) com uma garrafa de vinho.
T- Que é isso?
M- Vinho da colônia!
T- Tá bêbada?
M- A gente não diz essas coisas pra mãe.
[...] Vamos fazer um brinde pra animar!
T- Animar o quê?
M- Sei lá, vamos fazer um brinde.
Faz um pedido.
[...] Onde é que tu aprendeu a beber assim? Tu anda bebendo na rua? [risos] Ai, o guri ficou grande!
T- E tu ficou velha.
[...] o MSN toca, indicando que alguém está falando com ele.
M- Ué, ta de mal com o mundo?
T- Não, só to cansado.
M- Cansado de quê?
T- De não fazer nada.
Nos outros filmes, o choque de gerações entre pais e filhos é, geralmente, explorado, sendo um dos principais motivos de rebeldia dos jovens. Porém, nesta obra e, principalmente, nesta cena, ocorre uma humanização da mãe, que deixa de ser a “entidade mãe” para tornar-se amiga do filho ou, simplesmente, companheira naquele momento. Sua mãe não lhe causa desconforto, embora ele seja introspectivo.
5. Diego (D) e menino sem nome (T) na ponte, após o recente suicídio da mãe do Paulinho (colega deles).
T- De novo?
D- Pior.
[...] Percorrem por assuntos cotidianos até a realidade ser comentada.
T- Diego... Olha bem pra baixo.
D- Que é que tem?
T- Não parece que tem alguma coisa que te puxa?
D- Não viaja, guri!
[...] T- Se eu pudesse, eu tirava uma foto bem na hora em que ele se jogam.
D- Pra quê?
T- Pra ver a cara deles. Pra saber qual é a cara das pessoas quando elas não podem mais voltar atrás. Pra saber se na última hora eles se arrependem ou se pensam nos outros.
[...] Eu vou cara... Decidi!
D- Quê?
T- Eu vou embora ver o Dylan, sozinho!
D- Não tem nem onde ficar, guri, tu é bem louco!
T- Foda-se! Durmo na rua, num bar, num hotel, ou nem durmo. Sabe o que é mais foda? É que depois dali, ó... Não tem mais nada. – olha para a ponte, como quem aponta para a morte.
A concepção da morte é diferente. Não convivem com a realidade violenta, e sim com as escolhas de tirar a vida - assim aconteceu com Jingle Jangle e com a mãe do Paulinho. O menino sem nome, de alguma forma, se identifica com a pressão interna, mas compreende o egoísmo e acredita que existe muita coisa para se viver e muitas pessoas a quem “devemos a vida” (por isso, a curiosidade perante as expressões das pessoas que se jogam da ponte – será que no limite de suas vidas, elas têm algum pensamento repentino que as façam enxergar além de suas percepções momentâneas?). Ao tomar a decisão de fugir, e não a radical decisão de se matar, percebemos, por outras cenas também, que ele não deixa de se importar com o que tem, apenas parte em busca de sua felicidade e em busca de mais VIDA.
Nesta cena também fica visível a sua crença de que a vida é a nossa única chance.
6. Mãe (M) e filho (T) sentados no sofá da sala, enquanto a novela passa na TV.
M- Que que tu acha?
T- Bonito...
M- É, mas tanto assim também não... Cor muito berrante, tudo muito moderno. Nem é do meu jeito. E amanhã ou depois tu nem vai poder trazer teus filhos aqui, pra ver a casa onde tu cresceu.
T- Que filhos?
M- Eu vou ser avó. Casa de vó tem que ter cara de casa de vó! Imagina? Tu voltando aqui, lembrando do teu tempo.
T- Meu tempo é agora.
M- Isso tu fala agora. Deixa os anos passarem e tu vai ver que teu tempo ficou aqui, nessa casa.
T- Tomara que não.
Aqui, nos deparamos com o contraste da concepção do tempo para um adulto e para um jovem. A visão do adulto é linear, existe o passado (com toda a sua nostalgia), o presente e o futuro (onde há uma preocupação e questionamentos em relação aos filhos). Já o jovem é adepto ao “carpe diem”, onde o tempo é representado por um eterno presente, pois ainda é cedo para olhar para o passado, e encarar o futuro ainda é difícil, significando a responsabilidade de tomar decisões e um luto sobre a juventude – este fenômeno é chamado por estudiosos de Presentismo e tende a se expandir, hoje, sobre os adultos.
Para a mãe é importante preservar esta nostalgia e materializar as lembranças na casa onde o filho cresceu; já o menino sem nome, tudo o que quer é encontrar o seu lugar longe dali, e com urgência, pois o tempo parece perdido.
Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte II
Análise sobre os principais tipos jovens representados:
Ligação com o cenário:
A vontade de viver condenada a um casulo permanente. O menino sem nome, lúcido entre aqueles que sonham em segredo – sonhar em segredo, neste caso, seria não assumir os desejos internos, suprimir estes sonhos que, confinados, levam à ilusão de satisfação, que apenas mascara toda a angústia de todos – deseja expandir sua existência que se faz tão pequena e insignificante naquela cidade interiorana na qual ele vive, onde ele sabe que não é o seu lugar. Em tempos em que a agitação é sinônimo de vida, estar confinado no “cu do mundo” é mais do que uma terrível sina, é o drama de uma juventude que só pode entrar em contato com essa realidade através da internet. Este garoto não se sente confortável em sua casa, onde há um vazio impossível de se preencher, nem em sua escola, onde lhe é imposto uma forma de se comportar que não corresponde aos seus desejos, porém, ainda sim é um lugar onde ele quer ser aceito – podemos notar isso na cena do ginásio, onde estão escolhendo os times de futebol e ele não quer jogar, mas sua expressão relata a angústia de não ser selecionado pelo grupo, de ser excluído e deixado para trás, porque ele ainda é um adolescente e precisa disso. Para piorar, tudo isto está inserido em uma cidadezinha gaúcha que foi colonizada por alemães, cenário desprezado pelo menino sem nome. O computador é seu único meio de inserir-se neste mundo com o qual sonha, que não deixa de ser sonho, afinal, a vida virtual não é uma realidade.
Personalidade (comportamento):
Mr. Tambourine Man representa uma juventude que tem ganhado espaço nos últimos tempos. A juventude entediada, introspectiva, que busca inspiração em ídolos tão inalcançáveis quanto os seus sonhos. Este personagem, caracterizado pela busca de um espaço neste mundo louco, não é apenas desconectado da cidade interiorana, mas também de todo um universo. Um exemplo é o fato dele não gostar de futebol, isso contraria a maioria dos garotos de sua faixa etária, além do próprio Brasil.
Valores:
Mesmo tendo suas razões internas para se revoltar, o menino sem nome não adere a um comportamento que poderia ser questionável. Ele é, inegavelmente, introspectivo, mas isso não esconde sua generosidade e seu respeito pelos outros, o que fica muito claro na cena em que ele visita a casa da avó. Mr. Tambourine Man tem consciência de que nada daquilo que o perturba é culpa de alguém, muito pelo contrário, são todos vítimas desta realidade que pode ser encarada de inúmeras formas. Algumas explosões e atos questionáveis para alguns, como o uso de drogas, não conferem a este personagem uma imagem negativa. É inconformado com algumas coisas, mas, para um jovem nesta situação, é um garoto controlado, consciente, bom.
Interação com personagens/fatos da trama:
Existe um fascínio por Jingle Jangle por ela ter conseguido sair daquele lugar definitivamente e, paradoxalmente, ter se eternizado na Internet. E pelo Julian, por ele ter sido uma espécie de portal que sobreviveu – parte da imagem dela permanece nele. O relacionamento que o personagem mantêm com a mãe pode parecer superficial em alguns momentos, mas isso não deve ser creditado a nenhum dos dois, pois vivem a perda da mesma pessoa por perspectivas individuais, o que impossibilita que o vazio que paira naquela casa seja preenchido para os dois mutuamente. Enquanto ele carece de um pai, sua mãe carece de um companheiro. Ele encontrou sua "válvula de escape" no computador, que o aproxima de um mundo que não é físico, porém, mais próximo do desejado que qualquer outra coisa da qual ele possa se aproximar. Já sua mãe, "preencheu" esse vazio através da companhia da cadela Inês e de horas gastas na frente da alienadora TV.
2.Jingle Jangle
Jingle Jangle é uma personagem misteriosa. Pouco do que sabemos sobre essa garota, que aparece constantemente entre as cenas que expõe os acontecimentos que se passam com o menino sem nome, nos é apresentado em um diálogo entre Diego, seu irmão, e Mr. Tambourine Man, garoto encantado pela imagem silenciosa, mas não inexpressiva, dessa garota que não precisou de ninguém para ir embora. Assim como outros moradores dessa cidadezinha de interior, Jingle Jangle, tomou consciência de que algo estava errado por ali. Seria o lugar? Seria ela? De alguma forma, a garota sem pernas passa a se relacionar com Julian, acusado por quase todos os moradores dos arredores de ter sido culpado pelo destino trágico dela. Jingle Jangle atirou-se da ponte - assim como Julian que, por motivos desconhecidos, sobreviveu – mas, antes, eternizou-se na internet através de vídeos e fotos muito curiosos, que significam muito se forem observados com olhos atentos. Mesmo que ela tenha morrido, é tida pelo menino sem nome como inspiração, pois de uma forma ou de outra, ela se libertou daquela realidade tão opressora para alguns. Por que Jingle Jangle se matou ao invés de fugir? Não sabemos nem ao mesmo se o seu desejo primordial era sair dali, mas, se fosse, talvez o medo tenha sido decisivo na sua escolha.
É totalmente válido conferir alguns vídeos da "garota sem pernas":
Um dos estranhos vídeos mostra-a sendo sujada por Julian, que ainda carrega em si alguma coisa que restou dela, assim como a internet. Em outro, vemos ela sendo, tecnicamente, sufocada por ele – num sentido figurado, isso tudo pode significar a influência dele em sua personalidade. No entanto, não podemos julgá-lo como a pessoa que “sujou-a”, levou-a para o triste fim, pois em nenhum dos vídeos Jingle Jangle mostra-se receosa ou contrária ao que é feito consigo, sendo que em alguns ela inclusive sorri e parece divertir-se.
Tuane Eggers, a atriz que interpreta Jingle Jangle, tem um trabalho interessantíssimo como fotógrafa, inclusive, foi responsável pelas fotos que aparecem no filme, o que nos causa um certo estranhamento, pois não conseguimos distinguí-la da personagem. Vale a pena conferir suas outras fotografias no link: http://www.flickr.com/photos/uncolortv/
3. Diego
Interação com personagens/fatos da trama:
Tem uma grande amizade com Mr. Tambourine, embora ambos tenham desejos diferentes. É filho da professora da escola local e irmão da suicida Jingle Jangle, por isso, tem ódio de Julian, assim como o resto da cidade.
Valores e dilemas juvenis
O mundo paralelo está em movimento e existem meios de comunicação e mídias que o levam a enxergar isso, porém, seu corpo está preso a um lugar onde predomina o marasmo. Mesmo havendo outros jovens no local, que se divertem como podem, o garoto sem nome almeja mais do que isso, pois não procura a diversão e, sim, uma espécie de libertação.
“Parecia que tu tava em outro tempo”, disse Julian para o menino sem nome ao ver-lo girando.
Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte I
sábado, 2 de outubro de 2010
Garota Infernal - Parte III
1) Jennifer busca Needy para irem ao show
Needy se prepara para o Show para o qual foi “convidada” por Jennifer. Sua grande preocupação é fazer com que a amiga não sinta vergonha de sua aparência, ao mesmo tempo em que não pode ofuscá-la, o que nos revela uma característica comum das garotas nesta fase: a competitividade pela atenção. Mesmo sendo uma personagem de personalidade forte, Needy age como se sentisse intimidada por sua amiga infernal, não se importando com as alfinetadas e comentários desagradáveis dela sobre o seu namorado, capaz de perceber os defeitos de Jennifer que Needy teima em não ver.
Durante o show, um pequeno grande detalhe: as duas unem as mãos. O que para a futura comedora de corpos não significou nada levou sua amiga a um momento de extrema realização. A obsessão que Needy nutre por Jennifer se evidencia em cenas como esta, onde um simples toque mostra-se como uma forma de entrar em contato com o ser do qual ela depende e, consequentemente, o desejo de que esta pessoa apresente sensações recíprocas.
2) Tensão na sala de aula
Talvez, esta seja uma das únicas cenas onde o contato com a juventude super atual que circula pelo fundo das cenas se concretiza. Uma oposição de opiniões acerca de um anúncio do professor (a banda que estava fazia show no dia do incêndio decidiu doar 3% dos lucros de uma música para as famílias que tiveram perdas no acidente) expõe a forma com a qual uma adolescente, que ouso classificar como um dos melhores estereótipos da nossa geração, constrói suas “verdades”, seus valores, sua forma de encarar sua realidade. Este tipo representado, seguidora de modismos, defende uma verdade absoluta baseada no que leu no Wikipédia, pois, se está lá, é incontestável. É possível concluir que facilidades trazidas pela tecnologia são, em alguns momentos, causadoras de alienação profunda, levando jovens a aceitar o que lhes é fornecido como bom e verdadeiro sem que esses desenvolvam um pensamento crítico sobre o “incontestável”.
3)Beijo Lésbico
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Garota Infernal - Parte II
“O inferno é uma adolescente”.
Análise sobre os tipos jovens representados:
1) Jennifer:
Ligação com o cenário:
Jennifer achava-se grande para aquela cidade do interior por sua popularidade devido à beleza. Personalidade (comportamento):
Orgulhosa, Jennifer representa um estereótipo clássico em teen movies americanos: a popular e patricinha líder de torcida. Um tipo fisicamente perfeito, porém cheio de defeitos internos que a tornam até desumana – por mais que um ser seja belo, dificilmente, ele terá uma personalidade totalmente imoral, pois a consciência acaba por prevalecer dependendo da educação e formação do ser.
2) Needy:
Needy, diferente de Jennifer, parece ser apenas mais uma nerd estereotipada característica de filmes teen, mas logo percebemos que muito mais do que isso se esconde atrás de seus óculos grandes e roupas desajeitadas. Se não levarmos em consideração sua aparência, Needy é uma personagem ordinariamente comum, com características próprias, sem idealizações. Além de ser pouco tímida, o tipo representado aqui não se priva do convívio social, tendo até mesmo relacionamentos amorosos e pouco medo de discutir e impor suas ideias aos mais “preciosos socialmente”.
Relação com outros personagens:
A amizade construída desde a infância entre ela e Jennifer é questionada em vários momentos por personagens que apenas observam este estranho relacionamento. Mesmo explicitamente opostas, Needy teima em afirmar que as duas possuem muito em comum. A importância que é conferida a Jennifer, que pode ser confundida com atração lésbica, nada mais é do que uma obsessão. A segurança que lhe é dada, além de todas as experiências que as duas devem ter passado juntas, desde brincadeiras ingênuas até a descoberta da sexualidade (fingiam ser um casal de namorados), leva nossa querida e ofuscada Needy a dependência da “garota infernal”.
3) Colin Gray (emo): Colin é um personagem secundário, mas que retrata perfeitamente a famosa modinha melancólica que se alastrou por milhares de jovens desta geração. Emotivo, ele segue a corrente expressamente em suas vestimentas pretas e exageradas, uso de acessórios típicos, maquiagem e franja e gostos musicais comuns ao gênero. Porém, não é anti-social e interage com os outros personagens normalmente, inclusive, demonstrando desejos por Jennifer e, no início, interesse pela amizade de Neddy, que entendia seus escritos poéticos com tendências depressivas.
Valores e dilemas juvenis:
A moda sempre existiu, sendo um diferencial de tribos e adquirindo um papel quase fundamental na personalidade em formação de um jovem. Porém, atualmente, isso se pronuncia de forma demasiada e toma proporções maiores na definição de gostos musicais até o molde de como o adolescente deve se comportar em determinadas situações (um exemplo é o “emo” ter um compromisso com a emoção exagerada).
Garota Infernal - Parte I
Direção: Karyn Kusama
Roteiro: Diablo Cody
Origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 2009
Duração: 102 minutos
Elenco
Megan Fox (Jennifer Check)
Amanda Seyfried (Anita "Needy" Lesnick)
Johnny Simmons (Chip Dove)
Adam Brody (Nikolai Wolf)
J.K. Simmons (Sr. Wroblewski)
Kyle Gallner (Colin Gray)
Amy Sedaris (Toni Lesnicky)
Cynthia Stevenson (Sra. Dove)
Carrie Genzel (Sra. Check)
Juan Riedinger (Dirk)
Chris Pratt (Policial Roman Duda)
Juno Ruddell (Policial Warzak)
Dirigido por Karyn Kusama, "Garota Infernal" é um filme de humor negro que representa, em seu plano de fundo, as juventudes atuais, ou seja, existe um foco no roteiro paranormal, porém, este é adaptado para se passar em um ambiente totalmente jovem, acompanhando os cenários e a trama de típicos personagens adolescentes. Embora cada um dos adolescentes esteja, de alguma forma, enquadrado num estereótipo, há um cuidado em individualizar suas atitudes - um exemplo é o considerado "emo" atrair-se pela "gostosona" da escola.
Resumindo, a história desenvolve-se em torno das melhores amigas de infância Jennifer, a popular e linda líder de torcida, e Neddy, uma garota normal com aparência desleixada e nerd. Ambas vivem em uma cidade do interior que possui uma espécie de buraco negro aquático no meio da floresta, onde Jennifer é levada para ser sacrificada em um ritual, que necessitava de uma virgem, realizado por uma banda de rock que almeja sucesso. O problema é que a garota mentiu ser virgem e um demônio acaba possuindo seu corpo. Assim, Jenny começa a se alimentar de corpos de garotos do local, deixando o clima do ambiente escolar pesado inicialmente - na minha concepção, o filme retrata com certa sensibilidade o luto dos jovens e logo depois a indiferença perante o que se torna parte do cotiadiano. Jennifer revela-se apenas para a melhor amiga e esta tem a missão de impedir que as mortes continuem, antes que seja tarde demais.
A trilha sonora também nos leva a crer que o longa é intencionalmente um teen movie, porém, que não nos leva a um lugar essencialmente comum - considerando o seu final sádico e a produção cinematográfica.
domingo, 19 de setembro de 2010
10 Coisas que Eu Odeio em Você - Parte III
1. Kat recebe carta da universidade – foi aceita. Na sala, Kat (K), Bianca (B) e o pai delas (P) discutem.
P- Sarah Laurence não fica no outro lado do país?
K- Uma das razões para a candidatura.
P- Mas decidimos que ficaria aqui na escola. Washington como eu. Ser uma Wusky.
K- Não, você decidiu.
P- Então vai sem hesitar?
B- Esperamos que sim.
K- Pergunte à Bianca quem a trouxe para casa.
P- Não mude de... Quem te trouxe para casa?
B- Não se aborreça, há um rapaz...
K- Um imbecil incrível.
B- ...que poderá convidar-me...
P- Eu sei o que ele vai te perguntar e a resposta é não. Quais são as duas regras dessa casa? Número um: nada de namoros até se formarem. Número dois: nada de namoros até se formarem.
[...]
B- Sou a única garota da escola que não namora.
P- A sua irmã não namora.
K- Nem desejo.
P- E por quê?
K- Já viu os marginais sujos daquela escola?
B- De onde você é, do planeta dos perdedores?
O pai super protetor citado anteriormente é visível neste diálogo, onde impõe regras privativas e tem a ilusão de que sabe decidir o que é melhor para a filha contra a vontade dela. Também podemos notar a conseqüência dessa repressão, que é o fato da Bianca querer namorar independente de sentimentos reais, mas apenas para vivenciar experiências inusitadas para ela.
2. Diálogo entre Bianca (B) e Kat (K)
B- Já pensou num novo visual? Tem potencial enterrado debaixo dessa hostilidade toda.
K- Não sou hostil. Estou aborrecida.
B- Por que não tenta ser simpática? As pessoas ficariam sem saber o que pensar.
K- Não me interessa o que as pessoas pensam.
B- Importa sim.
K- Não, não me importo. Não tem de ser o que eles querem que seja.
B- Acontece que gosto de ser adorada. Obrigada.
A insegurança e a busca pela aceitação levam Bianca a adaptar-se a uma situação não inerente ao seu ser, não se importando em agir contra os seus desejos verdadeiros para ser adorada. A situação tem como consequência a perda da sua personalidade e da essência da sua pessoa para conservar uma imagem falsa, que também interferirá na realidade dos outros, que conviverão com algo que não é original. Kat é capaz de ver o quão opressor é o sistema, acreditando que se não se importar com o que pensam sobre si, conseguirá desenvolver o seu potencial como ser humano integralmente.
No entanto, não podemos excluir a possibilidade de Bianca ser assim por natureza e, por acaso, este seu comportamento convém com o que é exigido para o sucesso na vida social.
3. Kat (K) conversa com Bianca (B) como amiga-irmã pela primeira vez.
K- Eu sei que detesta ficar em casa por eu não ser uma garota normal.
B- Como se você se importasse.
K- Eu me importo, mas acredito em fazer uma coisa pelas nossas razões e não pelas razões dos outros.
B- Gostaria de ter esse luxo. Sou a única do segundo ano que foi convidada para o baile e que não pode ir porque você não quer ir.
K- O Joey nunca te contou que nós namoramos, não é? No nono ano, durante um ano.
B- Mas você odeia o Joey.
K- Agora odeio.
B- O que aconteceu?
K- [...]
B- Por favor, diz que está brincando!
K- Só uma vez. Logo depois da mamãe ter ido embora. Todos faziam isso, por isso eu fiz. Depois, eu disse que não queria mais porque não estava preparada. Ele ficou zangado e me deixou. Por isso, jurei nunca mais fazer nada só porque os outros fazem. E desde então não tenho feito, com a exceção da festa do Bogev e de ter vomitado.
B- Por que não me contou?
K- Queria que você chegasse sozinha a uma conclusão sobre ele.
B- Então por que ajuda o papai a me fazer prisioneira? Não sou assim tão estúpida para repetir os teus erros.
K- Pensei que estava te protegendo.
B- Ao não me deixar ter nenhuma experiência?
K- Nem todas as experiências são boas, Bianca. Nem sempre podemos confiar nas pessoas.
B- Acho que nunca saberei, não é?
Kat apresenta nesta cena as razões que a levaram a este comportamento diferenciado, surpreendendo-nos ao revelar que já viveu de acordo com o que Bianca considera normal. Suas experiências deste tempo não trazem nenhum orgulho para Kat, que por algumas razões conscientizou-se acerca da situação ridícula na qual se encontrava. Sua má vontade em ajudar Bianca a viver algumas coisas proibidas pelo pai perde o caráter de implicância e assume sua real motivação: proteger a irmã de experiências ruins já vivenciadas por ela. Não concordando com o que é dito por Kat, Bianca abandona a cena irritada por ser privada do que quer para si. O início da cena expõe mais uma vez as ideias da primogênita sobre o comportamento da juventude manipulada por fatores externos.
10 Coisas que Eu Odeio em Você - Parte II
Análise sobre os tipos jovens representados:
1) Kat
Kat, pelo menos no ambiente escolar, é portadora de uma personalidade singular. Enquanto todos os outros personagens vivem rodeados por um séquito de semelhantes na personalidade e aparência, ela é sempre representada como exclusiva em seu modo de ser. Até mesmo suas amigas parecem vê-la com olhos pouco generosos nos momentos onde o seu estilo de pensar revolucionário se faz presente. Essa peculiaridade da personagem permite que ela seja capaz de observar e se posicionar em relação ao absurdo que presencia diariamente com mais lucidez do que os que estão inseridos e sendo manipulados pelo sistema. Experiências desagradáveis pelas quais Kat passou distanciaram-na da realidade juvenil graças ao amadurecimento precoce que, em alguns momentos, não se manifesta.
Ligação com o cenário:
Kat apresenta um diferencial ao visitar com freqüência uma livraria, onde se interessa pelos equipamentos musicais e busca livros, ato incomum entre os jovens que a cercam – exceto os interessados em Shakespeare.
Além disso, apóia o feminismo e freqüenta shows realizados por mulheres. Ao relacionar-se com Patrick, ambos começam a ir em ambientes que possibilitam o romantismo e a diversão (como o lago onde andam de pedalinho e o paintball onde acabam entre as palhas, num longo beijo).
2) Bianca
3) Cameron Cameron é novo na escola e tudo lhe é apresentado como algo novo. Enxerga em Bianca, uma patricinha intocável, um ser puro e belo por quem se apaixona cegamente, sem perceber a futilidade da garota – assim, podemos notar a sua ingenuidade. Com sorriso fácil, olhos pequenos e uma timidez ao se relacionar com Bianca, as expressões de Cameron são o que podemos chamar de “meigas”. Quando o personagem começa a enxergar com clareza a personalidade superficial de sua paixão, é como se tivesse amadurecido. Embora seja tímido, ele corre atrás da realização de seus planos.
4) Patrick
Ligação com o cenário:
O cenário onde Patrick geralmente se encontra reflete o seu estereótipo de bad boy, sendo representado por uma espécie de oficina de ferragem e outros ambientes pesados, como um bar com mesas de sinuca cheio de motoqueiros. Para começar a se relacionar com Kat, começa a freqüentar lugares comuns aos da personagem, deixando para trás sua imagem inventada.
Personalidade (comportamento):
O passado negro, misterioso e composto por boatos absurdos atribuíram a Patrick a fama de bad boy. O jovem parece não se importar com o rótulo, não negando nada do que é dito sobre ele, afinal, esta posição lhe confere uma série de vantagens. Ser temido é uma grande dádiva no ambiente escolar representado no filme, onde existe uma competição entre os tipos paralelos. Desta forma, ele consegue se esquivar de qualquer conceito banal que o encaixaria nesta juventude imatura.
- Suas falas e expressões estão recheadas de um humor sarcástico, porém, simpático.
Por trás desta máscara comportamental, existe um jovem romântico, que, embora tenha sido pago para conquistar Kat, acaba por deixar-se levar pela paixão decorrente do conhecimento pela garota. Aparenta certo idealismo ao planejar momentos inesquecíveis especialmente para Kat, como, por exemplo, cantar “Can't Take My Eyes Off You” para conquistar o seu perdão, ou lhe presentear com uma guitarra, sendo atencioso em relação aos sonhos triviais de Kat (um deles era formar uma banda).
Interação com fatos da trama:
Pessoas o temem pelos boatos misteriosos e sem fundamento.
Valores e dilemas juvenis que
Permanecem até hoje:
- Atualmente, apesar de a juventude ter cada vez menos limites, ainda existem os pais radicais no sentido oposto, os pais super-protetores. Estes interferem na formação do indivíduo de maneira repressora, impondo limites excessivos à liberdade dos filhos, o que pode resultar em duas sérias conseqüências:
1) O jovem pode crescer sem as experiências necessárias para encarar o mundo sozinho. Em vez de evoluir gradativamente, ocorre um choque na hora de seguir em frente, o que, por não ter o preparo psicológico que se espera de um jovem adulto, lhe faz regredir.
2) O jovem pode tornar-se um rebelde e almejar liberdade a qualquer custo. Sem uma educação paralela, este também não está preparado, já que, normalmente, existem muitos tabus entre a relação desses pais e filhos.
Os pais repressores muitas vezes interferem no futuro dos filhos diretamente, como no caso da Kat ter decido por tal universidade e o pai dela não ter lhe apoiado inicialmente.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
10 Coisas que Eu Odeio em Você - Parte I
Direção: Gil Junger
Roteiro: Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith
Origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1999
Duração: 97 minutos
Elenco:
Heath Ledger (Patrick Verona)
Julia Stiles (Kat Stratford)
Joseph Gordon-Levitt (Cameron James)
Larisa Oleynik (Bianca Stratford)
Larry Miller (Walter Stratford)
David Krumholtz (Michael)
Andrew Keegan (Joey Donner)
Susan May Pratt (Mandella)
Gabrielle Union (Chastity)
Samantha Lee Great (Britanny)
Dirigido por Gil Junger, 10 Coisas que Eu Odeio em Você é uma adaptação da peça “A Megera Domada” de William Shakespeare para a década de 90. A protagonista Kat representa a megera diante da juventude contemporânea, que é constituída de tipos mascarados que se interagem entre semelhantes igualmente estereotipados. Conforme as regras instituídas pelo seu pai, a irmã de Kat, Bianca, só pode namorar quando Kat o fizer, e, assim, o desejo de Bianca de viver suas próprias experiências é impedido pelo desprezo natural pelos adolescentes locais da irmã mais velha. A missão do apaixonado Cameron é encontrar alguém que agüente sair com a indomável Kat, o que parece ser impossível antes do bad boy Patrick aparecer. Assim a trama desenrola-se abordando o relacionamento de Kat e Patrick (que, inicialmente, é pago para sair com ela, porém, acaba se apaixonando) e o de Bianca e Cameron (que têm Joey, o pegador riquinho que paga Patrick, como obstáculo). O roteiro é típico, porém, se destaca em termos de humor inteligente e cenas adoráveis.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Eu, Christiane F. - 13 Anos, drogada e prostituída - Parte III
1. Christiane F. (C) conversa com a mãe (M) sobre a sua ida ao show do David Bowie após tatuar-se.
M- Talvez eu consiga duas entradas da firma.
C- Você é um anjo.
M- Machucou a mão?
C- É só uma tatuagem.
M- O que?
C- Uma tatuagem, mas não está pronta.
M- Nunca mais vai se livrar dela. Bem, é você que vai ficar com ela.
Nota-se, a partir deste diálogo, a postura imparcial da mãe em relação às atitudes de sua filha que, provavelmente, seria repreendia por qualquer outro responsável nestas situações. A responsabilidade não é dividida em momento algum, dando-nos uma impressão de despreocupação com a filha. Vale ressaltar que pouco pode se concluir sobre a forma com que Christiane se relaciona com sua família, já que o filme não aborda estes pontos efetivamente.
D- Sua mãe sabe onde você está?
C- Claro, ela não é boba.
Acima, nos deparamos com um fragmento de um diálogo entre Christiane e Detlev, quando ambos estavam na casa dele, deitados na cama. Não é de se duvidar que a mãe realmente sabia onde Christiane estava e que não fez nada para impedir-la de dormir na casa de um desconhecido; porém, deste jeito, a mãe é “boba” ou não se preocupa com a filha. Concluímos que ela é os dois.
2. Christiane F. (C) encontra Detlev (D) na Sound após se drogar pela primeira vez.
D- Perdeu o juízo?
C- Você diz isso?
D- Tem que copiar o que faço?
C- Queria saber o que sentia.
D- Agora já sabe.
Christiane F. segue, conscientemente, os passos de Detlev rumo à desgraça por todo o filme. O rapaz, que sabe onde tudo isso acabará, alerta a amada sobre o que pode acontecer, censurando-a por ter usado a droga pela qual ele é viciado. A situação expõe o que ocorre inúmeras vezes durante o longa. Os que já são usuários da droga sabem que não estão fazendo a coisa certa, mas criticam duramente aqueles que querem passar pela mesma experiência. Não vejo problema em alertar o próximo contra aquilo que já se viveu e foi diagnosticado como algo ruim, porém, pouco se faz para mudar a própria atitude. O tema, no entanto, é mais delicado do que aparenta, pois o comportamento em questão envolve dependência química, algo que vai além do racional.
3. Diálogo entre Christiane (C) e Detlev na cama.
C- Fazer o que?
D- Faço ponto.
C- Não brinca.
D- É verdade...
C- Sai com bichas?
D- Só o que faço é masturbá-los. Se pensar no que pagam, não é nada.
[...]
C- Isso não te incomoda?
D- É só um trabalho.
C- Então não lhe dá prazer.
D- É nojento, faço por grana. Agora não gosta mais de mim.
Assim que Detlev anuncia o que faz, Christiane parece simplesmente curiosa a respeito dos clientes. Imatura, ela não pensa no universo o qual pertence seu presente e nem preocupa-se com as inúmeras possibilidades prejudiciais que o trabalho de seu namorado comporta; tanto que a prostituição se apresenta para ela como a saída mais viável num momento de crise (quando pedir esmolas não foi compensador).
4. Babsi (B) e Christiane F. (C) conversam sobre a tentativa de largar as drogas.
B- Vou largar.
C- Então, por que ainda está aqui?
B- Começarei amanhã. Amanhã mesmo.
C- Puxa, Babsi. Acho isso genial.
B- Ou paro agora, ou morro.
C- Vai parar, eu sei.
B- Quando me livrar após a terapia, como será?
C- Sem essa, Babei. Quer saber? Também vou largar. Faço terapia com você. Largaremos juntas.
B- Sério?
C- Você vai ver. Chegaremos lá.
-Promessas levianas/utópicas.
-A cena inicia-se com um comentário feito pelas personagens, já extremamente degradadas, sobre duas jovens de aparência saudável que passavam pela estação. “Logo estarão como nós”. Não há espaço para otimismo. Todos que estão nessa sabem que não estão fazendo o melhor para si mesmos e prometem levianamente, talvez conscientes que estes sonhos utópicos não passarão de metas nunca atingidas, trabalhar por um futuro melhor. O apoio que se dá ao próximo não costuma chegar com a mesma intensidade àquele que precisa tanto de ajuda quanto ele.
Eu, Christiane F. - 13 Anos, drogada e prostituída - Parte II
(x) sobre jovens ( ) para jovens
Talvez, o diretor considerasse as seringas mais atraentes do que os personagens, que nunca atingiram a mesma profundidade do objeto pontiagudo.
Christiane F. (13-14 anos), Detlev, Babsi
Ligação das personagens com os cenários:
-Estação Berlin Zoologischer Garten: Também conhecida como Bahnhof Zoo, a estação central de Berlim era, além de um ponto de prostituição, a vitrine do destino dos jovens que se tornavam escravos das drogas. Precisando sustentar o vício, Christiane F. que, assim como os outros, não conseguia passar muito tempo “limpa”, acabou se prostituindo aqui.
Personalidade (comportamento) das personagens:
O comportamento é significativamente alterado pelas drogas e a personalidade é fraca em conseqüência disso.
-Jovens ainda se submetam a situações inadequadas a fim da integração com outros jovens.
B) Mudaram:
- Hoje, há campanhas e mobilizações para alertar os jovens sobre as consequências do uso de drogas, assim, eles têm plena consciência e informação, apesar de muitos ainda tornarem-se usuários.