sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte IV

O filme “Os Famosos e os Duendes da Morte”, nos trouxe a possibilidade de expandir um pouco a proposta de análise que vínhamos realizando até os filmes anteriores, pois conseguimos entrar em contato com alguns atores que foram muito gentis e se disponibilizaram para comentar alguns aspectos do filme e da juventude ali encontrada.


1. Tuane Eggers


Entramos em contato com a atriz Tuane Eggers, que interpreta a personagem Jingle Jangle, que aceitou comentar alguns tópicos relacionados à representação da juventude no cinema, ao filme “Os Famosos e os Duendes da Morte” e também expressou sua opinião sobre o trabalho que vem sendo realizado no blog.


“Em primeiro lugar, parabéns pelo blog de vocês. Gostei da forma que vocês falam sobre os filmes, detalhando aspectos importantes e esclarecendo algumas coisas que talvez para outras pessoas não ficaram tão claras. Muito legal!”


A personagem Jingle Jangle e a sua realidade.

A Jingle Jangle é, em primeiro lugar, uma personagem misteriosa. Antes do suicídio, quis deixar sua marca em um lugar inabitável – e imutável. Enquanto era sufocada por um plástico, sorria. Acho que o maior mistério é esse: ela parecia tão bem com Julian, mas ao mesmo tempo, a dor era maior do que todo o prazer que poderia encontrar. Acho que tudo isso está no fundo de mim, retratada nas coisas que faço. O prazer e a beleza nas pequenas coisas, mas a dor está sempre por lá – como em todos nós.

A dificuldade de o jovem encontrar o seu lugar no mundo. Por que o suicídio teria sido a solução?

A adolescência é uma fase complicada. É quando quase nada basta para amenizar o desconforto em relação ao mundo. É quando você descobre que pode tirar a sua própria vida e isso começa a ser um tipo de convite/desafio/vertigem. Não digo que o suicídio é ou foi uma solução, mas é um “lugar” onde a dor acaba – para os fracos e para os fortes.

A relação da juventude com a internet.

A internet é uma coisa muito nova, algo que mudou a vida das pessoas em relação ao tempo e espaço. Talvez a - tão bela - frase do Ismael Caneppele “Estar perto não é físico” não teria tanto sentido se a internet não existisse. Você pode não ver, não estar perto, mas você se sente em contato por meio daquele portal.

E é uma coisa meio mágica porque você pode criar o seu mundo lá. Uma imagem sua de uma forma diferente. Confesso que é dessa forma que eu a utilizo – criei um mundo lá, com as minhas fotos e vídeos. A internet permite várias máscaras, mas isso pode ser um pouco perigoso.

Há uma cena do filme, quase no fim, onde a sua personagem “aparece” e interage com o menino sem nome e o Julian. O que ela significa? Poderia comentar algo sobre o relacionamento entre Julian e Jingle Jangle?

Pergunta difícil, pois ela não possui uma interpretação única. É algo tão sensitivo que acredito que cada pessoa entendeu de uma forma distinta. Algumas pessoas viram aquela cena como bissexual, mas eu a vejo como muito além disso. Às vezes penso que Julian e Jingle Jangle eram partes do próprio menino sem nome. O seu lado feminino e masculino. As suas dúvidas e dores. Aquela cena foi uma espécie de transe decisivo – para o que? É mais um mistério.

A aceitação do filme pelo público jovem

Me surpreendi muito com o sucesso do filme com o público jovem. Acho que foi porque houve muita identificação. Mesmo a história sendo em uma cidade do interior, o sentimento de desconforto é geral quando você é adolescente. Assim como as dúvidas, dores, incertezas...

A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)

Foi muita coincidência terem sido produzidos três filmes nacionais com essa temática ao mesmo tempo. Ou, nem tanta coincidência assim. Talvez tenha se percebido a importância de falar sobre jovens e as novas questões. Não era uma temática muito abordada, acho que aconteceu no momento certo.


Gostaríamos muito de agradecer Tuane pela simpatia e boa vontade em responder essas perguntas e de divulgar, novamente, o seu trabalho como fotógrafa no site
www.flickr.com/uncolortv. Vale e pena conferir!


2. Henrique Larré



Henrique Larré, o menino sem nome, protagonista de "Os Famosos e os Duendes da Morte", se disponibilizou em ajudar-nos comentando alguns tópicos relacionados a filme e ao que pudemos observar sobre a representação da juventude nesta obra-prima do cinema brasileiro. Além dos comentários, expôs sua opinião acerca do trabalho que está sendo realizado pelo Habeas Corpus da Juventude:


“Adorei o Blog, for real! A idéia de vocês é super interessante, e não é nada convencional. Blogs sobre cinema existem vários, fazendo críticas e tudo mais, mas blogs que "dissecam" filmes, explicando cena por cena, como o de vocês.. nunca havia visto.
Tem filmes que pedem uma passada no google pra achar um esclarecimento... eu mesmo fiz isso algumas vezes (assistindo filmes do Lynch, por exemplo)
Parabéns pela idéia e pelo modo como vocês conduzem o blog! :)”


O menino sem nome e a sua realidade

O menino sem nome tem muito de mim. Fizemos uma espécie de empréstimo... Dei à ele algumas coisas minhas, e ele retribuiu. Passei por algumas situações pelas quais ele passa, pensei como ele algumas vezes... Muito do universo dele, foi meu em algum momento. Tenho certeza que muitos adolescentes que assistiram o filme se identificaram porque são questões absolutamente naturais.
Mas acho que encontramos uma saída!

A relação da juventude com a internet

A internet é parte dos jovens dessa geração. É um meio cheio de possibilidades.
Você pode fazer/ser tudo, pela web. Eu tenho uma relação muito intensa com a internet (afinal de contas, recebi o convite pra fazer teste pra um filme, via fotolog. haha) Desde os meus onze anos eu acesso a internet praticamente todos os dias.. Já tive todos os tipos possíveis de redes sociais e hoje uso a internet pra trabalho e pra me manter atualizado. É triste, mas como mostra no filme, existem jovens que usam a internet como uma forma de escape. A única alternativa que alguns tem de fugir de sua vida real, que nunca é fácil e quase sempre não sabemos lidar com isso. Eu fui assim um dia.

A necessidade de uma amizade

Na verdade acho que o Diego é, pro menino sem nome, o único "link" com a realidade daquele lugar. O amigo é completamente oposto à ele, e mesmo assim eles tem uma amizade muito forte. Na cena da "carta final" (que foi excluída na edição final, mas que pode ser vista nos extras do DVD) o Mr. Tambourine fala "eu gostaria que você fosse mãe de qualquer outro garoto dessa cidade, talvez assim tu tivesse mais chance de ser feliz". Acho que parte dele, quer ser como a maioria dos meninos do "cu do mundo", ser como o Diego.. e por isso ele tem até um tipo de admiração por aquele menino que é completamente conformado com a vida que leva ali. Seria menos doloroso ser como o Diego, eu acho.

A dificuldade de diálogo entre as gerações

A dificuldade de diálogo entre gerações é bem presente no filme. Tem uma cena que pra mim é a mais explícita nesse sentido, que é quando o menino vai visitar os avós, e o avô ao chegar ali o cumprimenta com um "oi" completamente desconfortável. É bem esquisita a cena, na maioria das vezes que fui ao cinema pude perceber que as pessoas acham bem engraçado. É nítido que existe uma barreira enorme entre eles ali.


A aceitação do filme pelo público jovem

A aceitação do filme foi uma grata surpresa pra mim. Logo no começo de todo o processo, quando eu recém havia ganho o papel, não fazia a mínima noção do que era esse filme, e da dimensão dele. Não acreditava quando o Esmir falava que o filme seria exibido no país inteiro, e provavelmente em muitos lugares do mundo. Ao longo do processo fui descobrindo Os Famosos e os Duendes da Morte, e de fato pensava que, apesar de ser um filme com temática adolescente, ele talvez não fosse muito bem aceito pelos mesmos..
Ok, subestimei uma geração que sem dúvida é muito além do que muitos pensam.
Acontece que hoje muitos adolescentes me procuram no twitter, facebook etc, pra dizer que adoraram o filme e que se identificaram e tal. É brilhante ler o que as pessoas sentem ao assistir Os Famosos.. eu sempre tentando acompanhar esse tipo de coisa.


A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)

Fico muito feliz com essa "onda" de filmes voltados pro público adolescente. Aliás, que falam sobre adolescentes, mas que na verdade são pra qualquer tipo de público.
A adolescência é uma fase muito importante na vida de uma pessoa. Adolescentes são muitos interessantes e podem render ótimas histórias. Espero que isso continue, temos muitas histórias ainda a serem contadas.

Henrique, sabemos que foi difícil disponibilizar o seu tempo curto para responder essas perguntas, então, queremos muito agradecer pela sua grande ajuda e apoio neste projeto. Muito obrigado!

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