1. Conversa no MSN entre “Mr. Tambourine Man” e “E.F”; ou seja, entre o menino sem nome e Esmir Filho, o próprio (e real) diretor do filme, que aparece explicitamente na foto a seguir, presente no blog que foi enviado para o garoto.
Mr. Tambourine Man diz:
É muito longe de mim…
E.F diz:
Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade.
Esmir Filho aprofunda/complementa as palavras do menino, dando outro sentido a elas e deixando claro, logo no início do filme, a dificuldade do jovem em se encaixar no lugar em que vive, já que o lugar a que ele pertence e poderá viver de verdade não é aquele.
Em outro diálogo, que aparece ao longo do filme, o diretor aparece como quase que cumprindo seu verdadeiro papel de orientar o ator, mas de uma forma paternal, como os pássaros que mostram para seus filhotes a libertação de “voar”.
*Ao descobrir que é Esmir Filho o tal “E.F”, parece uma espécie de piada o trecho “Tu é quem manda”.
Mr. Tambourine Man diz:
Às vezes eu tenho nojo de mim!
E.F diz:
Eu também já senti isso!
Mr. Tambourine Man diz:
Queria que tudo acabasse de uma vez!
E.F diz:
Como? A ponte???
Mr. Tambourine Man diz:
Tu é quem manda!
E.F diz:
Voe para longe!
Acima, um detalhe do msn do menino sem nome, o "Mr. Tambourine Man". Os contatos são divididos entre as categorias "Longe Daqui" (onde muitos se encontram online) e "Cu do Mundo" (onde todos estão offline).
2. Diego (D) e “menino sem nome” (T) fumando maconha nos trilhos durante a madrugada.
T- Parece que eu demorei um ano pra fazer isso.
D- O que?
T- Isso de guardar.
D- Pior né, cara? Porra, nem parece que passou tanto tempo.
T- Não passou.
D- Cara, então porque tu disse?
T- Que que eu disse?
D- Isso do tempo.
T- Eu não disse, eu só achei.
As estrelas do teto do menino sem nome contrastam com a imagem dos dois amigos abobados com o efeito da droga, como se todas as estrelas passassem a brilhar por ambos estarem “no brilho”, praticamente em outro lugar que não aquela cidadezinha. A droga os libertava do tédio - comum na vida de um adolescente que sonha em aproveitar cada momento e se vê perdido no “nada”.
*Antes, é importante salientar que apenas uma estrela de seu quarto brilhava.
No diálogo acima, mesmo que as consciências estivessem afetadas pelo efeito da droga, podemos notar que eles perdem a noção de tempo em suas vidas pacatas.
3. Diego (D) e garoto sem nome (T) conversando enquanto caminham numa estrada de terra.
T- Tá tudo certo, vamo?
D- Quê?
T- A parada, aquela.
D- Que parada, piá?
T- Cara, o show do Bob Dylan que eu te falei.
D- Tá, que que tem?
T- Tá tudo certo, vamo comigo?
D- Tá louco, meu?
T- Cara, aventura!
D- Não viaja, piá. Acorda, porra!
T- Tu tem que ir comigo.
D- Meu, eu vou na festa junina comer a irmã do Paulinho, cara. Eu preciso, eu não agüento essa internet.
O menino sem nome cansa de pesar conseqüências quando a única coisa que precisa é sair dali. O show do Bob Dylan não é apenas uma desculpa, mas um sonho que engloba o ideal de aventura, de movimento e, principalmente, de mudança.
O próprio título da obra faz referência à influência dos famosos (ídolos) na vida do menino. Os ídolos trazem, através de letras de músicas, melodias, poesias, escritos ou até pela aparência, um molde de um novo mundo inusitado, um mundo individual, porém compartilhado – e isso dá a oportunidade, principalmente para os jovens, de enxergarem pelos olhos de outra pessoa (um herói) o desconhecido.
4. A mãe (M) entra no quarto dele (T) com uma garrafa de vinho.
T- Que é isso?
M- Vinho da colônia!
T- Tá bêbada?
M- A gente não diz essas coisas pra mãe.
[...] Vamos fazer um brinde pra animar!
T- Animar o quê?
M- Sei lá, vamos fazer um brinde.
Faz um pedido.
[...] Onde é que tu aprendeu a beber assim? Tu anda bebendo na rua? [risos] Ai, o guri ficou grande!
T- E tu ficou velha.
[...] o MSN toca, indicando que alguém está falando com ele.
M- Ué, ta de mal com o mundo?
T- Não, só to cansado.
M- Cansado de quê?
T- De não fazer nada.
Nos outros filmes, o choque de gerações entre pais e filhos é, geralmente, explorado, sendo um dos principais motivos de rebeldia dos jovens. Porém, nesta obra e, principalmente, nesta cena, ocorre uma humanização da mãe, que deixa de ser a “entidade mãe” para tornar-se amiga do filho ou, simplesmente, companheira naquele momento. Sua mãe não lhe causa desconforto, embora ele seja introspectivo.
5. Diego (D) e menino sem nome (T) na ponte, após o recente suicídio da mãe do Paulinho (colega deles).
T- De novo?
D- Pior.
[...] Percorrem por assuntos cotidianos até a realidade ser comentada.
T- Diego... Olha bem pra baixo.
D- Que é que tem?
T- Não parece que tem alguma coisa que te puxa?
D- Não viaja, guri!
[...] T- Se eu pudesse, eu tirava uma foto bem na hora em que ele se jogam.
D- Pra quê?
T- Pra ver a cara deles. Pra saber qual é a cara das pessoas quando elas não podem mais voltar atrás. Pra saber se na última hora eles se arrependem ou se pensam nos outros.
[...] Eu vou cara... Decidi!
D- Quê?
T- Eu vou embora ver o Dylan, sozinho!
D- Não tem nem onde ficar, guri, tu é bem louco!
T- Foda-se! Durmo na rua, num bar, num hotel, ou nem durmo. Sabe o que é mais foda? É que depois dali, ó... Não tem mais nada. – olha para a ponte, como quem aponta para a morte.
A concepção da morte é diferente. Não convivem com a realidade violenta, e sim com as escolhas de tirar a vida - assim aconteceu com Jingle Jangle e com a mãe do Paulinho. O menino sem nome, de alguma forma, se identifica com a pressão interna, mas compreende o egoísmo e acredita que existe muita coisa para se viver e muitas pessoas a quem “devemos a vida” (por isso, a curiosidade perante as expressões das pessoas que se jogam da ponte – será que no limite de suas vidas, elas têm algum pensamento repentino que as façam enxergar além de suas percepções momentâneas?). Ao tomar a decisão de fugir, e não a radical decisão de se matar, percebemos, por outras cenas também, que ele não deixa de se importar com o que tem, apenas parte em busca de sua felicidade e em busca de mais VIDA.
Nesta cena também fica visível a sua crença de que a vida é a nossa única chance.
6. Mãe (M) e filho (T) sentados no sofá da sala, enquanto a novela passa na TV.
M- Que que tu acha?
T- Bonito...
M- É, mas tanto assim também não... Cor muito berrante, tudo muito moderno. Nem é do meu jeito. E amanhã ou depois tu nem vai poder trazer teus filhos aqui, pra ver a casa onde tu cresceu.
T- Que filhos?
M- Eu vou ser avó. Casa de vó tem que ter cara de casa de vó! Imagina? Tu voltando aqui, lembrando do teu tempo.
T- Meu tempo é agora.
M- Isso tu fala agora. Deixa os anos passarem e tu vai ver que teu tempo ficou aqui, nessa casa.
T- Tomara que não.
Aqui, nos deparamos com o contraste da concepção do tempo para um adulto e para um jovem. A visão do adulto é linear, existe o passado (com toda a sua nostalgia), o presente e o futuro (onde há uma preocupação e questionamentos em relação aos filhos). Já o jovem é adepto ao “carpe diem”, onde o tempo é representado por um eterno presente, pois ainda é cedo para olhar para o passado, e encarar o futuro ainda é difícil, significando a responsabilidade de tomar decisões e um luto sobre a juventude – este fenômeno é chamado por estudiosos de Presentismo e tende a se expandir, hoje, sobre os adultos.
Para a mãe é importante preservar esta nostalgia e materializar as lembranças na casa onde o filho cresceu; já o menino sem nome, tudo o que quer é encontrar o seu lugar longe dali, e com urgência, pois o tempo parece perdido.
seus loOoOOoOuuucos hahahahha
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