quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Eu, Christiane F. - 13 Anos, drogada e prostituída - Parte III

Análise de cenas e/ou diálogos relevantes:

1. Christiane F. (C) conversa com a mãe (M) sobre a sua ida ao show do David Bowie após tatuar-se.


M- Talvez eu consiga duas entradas da firma.
C- Você é um anjo.
M- Machucou a mão?
C- É só uma tatuagem.
M- O que?
C- Uma tatuagem, mas não está pronta.
M- Nunca mais vai se livrar dela. Bem, é você que vai ficar com ela.

Nota-se, a partir deste diálogo, a postura imparcial da mãe em relação às atitudes de sua filha que, provavelmente, seria repreendia por qualquer outro responsável nestas situações. A responsabilidade não é dividida em momento algum, dando-nos uma impressão de despreocupação com a filha. Vale ressaltar que pouco pode se concluir sobre a forma com que Christiane se relaciona com sua família, já que o filme não aborda estes pontos efetivamente.

D- Sua mãe sabe onde você está?
C- Claro, ela não é boba.

Acima, nos deparamos com um fragmento de um diálogo entre Christiane e Detlev, quando ambos estavam na casa dele, deitados na cama. Não é de se duvidar que a mãe realmente sabia onde Christiane estava e que não fez nada para impedir-la de dormir na casa de um desconhecido; porém, deste jeito, a mãe é “boba” ou não se preocupa com a filha. Concluímos que ela é os dois.

2. Christiane F. (C) encontra Detlev (D) na Sound após se drogar pela primeira vez.



D- Perdeu o juízo?
C- Você diz isso?
D- Tem que copiar o que faço?
C- Queria saber o que sentia.
D- Agora já sabe.

Christiane F. segue, conscientemente, os passos de Detlev rumo à desgraça por todo o filme. O rapaz, que sabe onde tudo isso acabará, alerta a amada sobre o que pode acontecer, censurando-a por ter usado a droga pela qual ele é viciado. A situação expõe o que ocorre inúmeras vezes durante o longa. Os que já são usuários da droga sabem que não estão fazendo a coisa certa, mas criticam duramente aqueles que querem passar pela mesma experiência. Não vejo problema em alertar o próximo contra aquilo que já se viveu e foi diagnosticado como algo ruim, porém, pouco se faz para mudar a própria atitude. O tema, no entanto, é mais delicado do que aparenta, pois o comportamento em questão envolve dependência química, algo que vai além do racional.


3. Diálogo entre Christiane (C) e Detlev na cama.


D- Vou para a estação central.
C- Fazer o que?
D- Faço ponto.
C- Não brinca.
D- É verdade...
C- Sai com bichas?
D- Só o que faço é masturbá-los. Se pensar no que pagam, não é nada.
[...]
C- Isso não te incomoda?
D- É só um trabalho.
C- Então não lhe dá prazer.
D- É nojento, faço por grana. Agora não gosta mais de mim.

Assim que Detlev anuncia o que faz, Christiane parece simplesmente curiosa a respeito dos clientes. Imatura, ela não pensa no universo o qual pertence seu presente e nem preocupa-se com as inúmeras possibilidades prejudiciais que o trabalho de seu namorado comporta; tanto que a prostituição se apresenta para ela como a saída mais viável num momento de crise (quando pedir esmolas não foi compensador).

4. Babsi (B) e Christiane F. (C) conversam sobre a tentativa de largar as drogas.


B- Vou largar.
C- Então, por que ainda está aqui?
B- Começarei amanhã. Amanhã mesmo.
C- Puxa, Babsi. Acho isso genial.
B- Ou paro agora, ou morro.
C- Vai parar, eu sei.
B- Quando me livrar após a terapia, como será?
C- Sem essa, Babei. Quer saber? Também vou largar. Faço terapia com você. Largaremos juntas.
B- Sério?
C- Você vai ver. Chegaremos lá.

-Promessas levianas/utópicas.
-A cena inicia-se com um comentário feito pelas personagens, já extremamente degradadas, sobre duas jovens de aparência saudável que passavam pela estação. “Logo estarão como nós”. Não há espaço para otimismo. Todos que estão nessa sabem que não estão fazendo o melhor para si mesmos e prometem levianamente, talvez conscientes que estes sonhos utópicos não passarão de metas nunca atingidas, trabalhar por um futuro melhor. O apoio que se dá ao próximo não costuma chegar com a mesma intensidade àquele que precisa tanto de ajuda quanto ele.

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