sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte IV

O filme “Os Famosos e os Duendes da Morte”, nos trouxe a possibilidade de expandir um pouco a proposta de análise que vínhamos realizando até os filmes anteriores, pois conseguimos entrar em contato com alguns atores que foram muito gentis e se disponibilizaram para comentar alguns aspectos do filme e da juventude ali encontrada.


1. Tuane Eggers


Entramos em contato com a atriz Tuane Eggers, que interpreta a personagem Jingle Jangle, que aceitou comentar alguns tópicos relacionados à representação da juventude no cinema, ao filme “Os Famosos e os Duendes da Morte” e também expressou sua opinião sobre o trabalho que vem sendo realizado no blog.


“Em primeiro lugar, parabéns pelo blog de vocês. Gostei da forma que vocês falam sobre os filmes, detalhando aspectos importantes e esclarecendo algumas coisas que talvez para outras pessoas não ficaram tão claras. Muito legal!”


A personagem Jingle Jangle e a sua realidade.

A Jingle Jangle é, em primeiro lugar, uma personagem misteriosa. Antes do suicídio, quis deixar sua marca em um lugar inabitável – e imutável. Enquanto era sufocada por um plástico, sorria. Acho que o maior mistério é esse: ela parecia tão bem com Julian, mas ao mesmo tempo, a dor era maior do que todo o prazer que poderia encontrar. Acho que tudo isso está no fundo de mim, retratada nas coisas que faço. O prazer e a beleza nas pequenas coisas, mas a dor está sempre por lá – como em todos nós.

A dificuldade de o jovem encontrar o seu lugar no mundo. Por que o suicídio teria sido a solução?

A adolescência é uma fase complicada. É quando quase nada basta para amenizar o desconforto em relação ao mundo. É quando você descobre que pode tirar a sua própria vida e isso começa a ser um tipo de convite/desafio/vertigem. Não digo que o suicídio é ou foi uma solução, mas é um “lugar” onde a dor acaba – para os fracos e para os fortes.

A relação da juventude com a internet.

A internet é uma coisa muito nova, algo que mudou a vida das pessoas em relação ao tempo e espaço. Talvez a - tão bela - frase do Ismael Caneppele “Estar perto não é físico” não teria tanto sentido se a internet não existisse. Você pode não ver, não estar perto, mas você se sente em contato por meio daquele portal.

E é uma coisa meio mágica porque você pode criar o seu mundo lá. Uma imagem sua de uma forma diferente. Confesso que é dessa forma que eu a utilizo – criei um mundo lá, com as minhas fotos e vídeos. A internet permite várias máscaras, mas isso pode ser um pouco perigoso.

Há uma cena do filme, quase no fim, onde a sua personagem “aparece” e interage com o menino sem nome e o Julian. O que ela significa? Poderia comentar algo sobre o relacionamento entre Julian e Jingle Jangle?

Pergunta difícil, pois ela não possui uma interpretação única. É algo tão sensitivo que acredito que cada pessoa entendeu de uma forma distinta. Algumas pessoas viram aquela cena como bissexual, mas eu a vejo como muito além disso. Às vezes penso que Julian e Jingle Jangle eram partes do próprio menino sem nome. O seu lado feminino e masculino. As suas dúvidas e dores. Aquela cena foi uma espécie de transe decisivo – para o que? É mais um mistério.

A aceitação do filme pelo público jovem

Me surpreendi muito com o sucesso do filme com o público jovem. Acho que foi porque houve muita identificação. Mesmo a história sendo em uma cidade do interior, o sentimento de desconforto é geral quando você é adolescente. Assim como as dúvidas, dores, incertezas...

A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)

Foi muita coincidência terem sido produzidos três filmes nacionais com essa temática ao mesmo tempo. Ou, nem tanta coincidência assim. Talvez tenha se percebido a importância de falar sobre jovens e as novas questões. Não era uma temática muito abordada, acho que aconteceu no momento certo.


Gostaríamos muito de agradecer Tuane pela simpatia e boa vontade em responder essas perguntas e de divulgar, novamente, o seu trabalho como fotógrafa no site
www.flickr.com/uncolortv. Vale e pena conferir!


2. Henrique Larré



Henrique Larré, o menino sem nome, protagonista de "Os Famosos e os Duendes da Morte", se disponibilizou em ajudar-nos comentando alguns tópicos relacionados a filme e ao que pudemos observar sobre a representação da juventude nesta obra-prima do cinema brasileiro. Além dos comentários, expôs sua opinião acerca do trabalho que está sendo realizado pelo Habeas Corpus da Juventude:


“Adorei o Blog, for real! A idéia de vocês é super interessante, e não é nada convencional. Blogs sobre cinema existem vários, fazendo críticas e tudo mais, mas blogs que "dissecam" filmes, explicando cena por cena, como o de vocês.. nunca havia visto.
Tem filmes que pedem uma passada no google pra achar um esclarecimento... eu mesmo fiz isso algumas vezes (assistindo filmes do Lynch, por exemplo)
Parabéns pela idéia e pelo modo como vocês conduzem o blog! :)”


O menino sem nome e a sua realidade

O menino sem nome tem muito de mim. Fizemos uma espécie de empréstimo... Dei à ele algumas coisas minhas, e ele retribuiu. Passei por algumas situações pelas quais ele passa, pensei como ele algumas vezes... Muito do universo dele, foi meu em algum momento. Tenho certeza que muitos adolescentes que assistiram o filme se identificaram porque são questões absolutamente naturais.
Mas acho que encontramos uma saída!

A relação da juventude com a internet

A internet é parte dos jovens dessa geração. É um meio cheio de possibilidades.
Você pode fazer/ser tudo, pela web. Eu tenho uma relação muito intensa com a internet (afinal de contas, recebi o convite pra fazer teste pra um filme, via fotolog. haha) Desde os meus onze anos eu acesso a internet praticamente todos os dias.. Já tive todos os tipos possíveis de redes sociais e hoje uso a internet pra trabalho e pra me manter atualizado. É triste, mas como mostra no filme, existem jovens que usam a internet como uma forma de escape. A única alternativa que alguns tem de fugir de sua vida real, que nunca é fácil e quase sempre não sabemos lidar com isso. Eu fui assim um dia.

A necessidade de uma amizade

Na verdade acho que o Diego é, pro menino sem nome, o único "link" com a realidade daquele lugar. O amigo é completamente oposto à ele, e mesmo assim eles tem uma amizade muito forte. Na cena da "carta final" (que foi excluída na edição final, mas que pode ser vista nos extras do DVD) o Mr. Tambourine fala "eu gostaria que você fosse mãe de qualquer outro garoto dessa cidade, talvez assim tu tivesse mais chance de ser feliz". Acho que parte dele, quer ser como a maioria dos meninos do "cu do mundo", ser como o Diego.. e por isso ele tem até um tipo de admiração por aquele menino que é completamente conformado com a vida que leva ali. Seria menos doloroso ser como o Diego, eu acho.

A dificuldade de diálogo entre as gerações

A dificuldade de diálogo entre gerações é bem presente no filme. Tem uma cena que pra mim é a mais explícita nesse sentido, que é quando o menino vai visitar os avós, e o avô ao chegar ali o cumprimenta com um "oi" completamente desconfortável. É bem esquisita a cena, na maioria das vezes que fui ao cinema pude perceber que as pessoas acham bem engraçado. É nítido que existe uma barreira enorme entre eles ali.


A aceitação do filme pelo público jovem

A aceitação do filme foi uma grata surpresa pra mim. Logo no começo de todo o processo, quando eu recém havia ganho o papel, não fazia a mínima noção do que era esse filme, e da dimensão dele. Não acreditava quando o Esmir falava que o filme seria exibido no país inteiro, e provavelmente em muitos lugares do mundo. Ao longo do processo fui descobrindo Os Famosos e os Duendes da Morte, e de fato pensava que, apesar de ser um filme com temática adolescente, ele talvez não fosse muito bem aceito pelos mesmos..
Ok, subestimei uma geração que sem dúvida é muito além do que muitos pensam.
Acontece que hoje muitos adolescentes me procuram no twitter, facebook etc, pra dizer que adoraram o filme e que se identificaram e tal. É brilhante ler o que as pessoas sentem ao assistir Os Famosos.. eu sempre tentando acompanhar esse tipo de coisa.


A juventude como produto (afinal, houve uma explosão de filmes com esse tema no cinema brasileiro)

Fico muito feliz com essa "onda" de filmes voltados pro público adolescente. Aliás, que falam sobre adolescentes, mas que na verdade são pra qualquer tipo de público.
A adolescência é uma fase muito importante na vida de uma pessoa. Adolescentes são muitos interessantes e podem render ótimas histórias. Espero que isso continue, temos muitas histórias ainda a serem contadas.

Henrique, sabemos que foi difícil disponibilizar o seu tempo curto para responder essas perguntas, então, queremos muito agradecer pela sua grande ajuda e apoio neste projeto. Muito obrigado!

domingo, 3 de outubro de 2010

Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte III

Análise de cenas relevantes:

1. Conversa no MSN entre “Mr. Tambourine Man” e “E.F”; ou seja, entre o menino sem nome e Esmir Filho, o próprio (e real) diretor do filme, que aparece explicitamente na foto a seguir, presente no blog que foi enviado para o garoto.

Mr. Tambourine Man diz:
É muito longe de mim…
E.F diz:
Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade.

Esmir Filho aprofunda/complementa as palavras do menino, dando outro sentido a elas e deixando claro, logo no início do filme, a dificuldade do jovem em se encaixar no lugar em que vive, já que o lugar a que ele pertence e poderá viver de verdade não é aquele.

Em outro diálogo, que aparece ao longo do filme, o diretor aparece como quase que cumprindo seu verdadeiro papel de orientar o ator, mas de uma forma paternal, como os pássaros que mostram para seus filhotes a libertação de “voar”.
*Ao descobrir que é Esmir Filho o tal “E.F”, parece uma espécie de piada o trecho “Tu é quem manda”.

Mr. Tambourine Man diz:
Às vezes eu tenho nojo de mim!
E.F diz:
Eu também já senti isso!
Mr. Tambourine Man diz:
Queria que tudo acabasse de uma vez!
E.F diz:
Como? A ponte???
Mr. Tambourine Man diz:
Tu é quem manda!
E.F diz:
Voe para longe!

Acima, um detalhe do msn do menino sem nome, o "Mr. Tambourine Man". Os contatos são divididos entre as categorias "Longe Daqui" (onde muitos se encontram online) e "Cu do Mundo" (onde todos estão offline).


2. Diego (D) e “menino sem nome” (T) fumando maconha nos trilhos durante a madrugada.


T- Parece que eu demorei um ano pra fazer isso.
D- O que?
T- Isso de guardar.
D- Pior né, cara? Porra, nem parece que passou tanto tempo.
T- Não passou.
D- Cara, então porque tu disse?
T- Que que eu disse?
D- Isso do tempo.
T- Eu não disse, eu só achei.


As estrelas do teto do menino sem nome contrastam com a imagem dos dois amigos abobados com o efeito da droga, como se todas as estrelas passassem a brilhar por ambos estarem “no brilho”, praticamente em outro lugar que não aquela cidadezinha. A droga os libertava do tédio - comum na vida de um adolescente que sonha em aproveitar cada momento e se vê perdido no “nada”.
*Antes, é importante salientar que apenas uma estrela de seu quarto brilhava.
No diálogo acima, mesmo que as consciências estivessem afetadas pelo efeito da droga, podemos notar que eles perdem a noção de tempo em suas vidas pacatas.

3. Diego (D) e garoto sem nome (T) conversando enquanto caminham numa estrada de terra.


T- Tá tudo certo, vamo?
D- Quê?
T- A parada, aquela.
D- Que parada, piá?
T- Cara, o show do Bob Dylan que eu te falei.
D- Tá, que que tem?
T- Tá tudo certo, vamo comigo?
D- Tá louco, meu?
T- Cara, aventura!
D- Não viaja, piá. Acorda, porra!
T- Tu tem que ir comigo.
D- Meu, eu vou na festa junina comer a irmã do Paulinho, cara. Eu preciso, eu não agüento essa internet.

O menino sem nome cansa de pesar conseqüências quando a única coisa que precisa é sair dali. O show do Bob Dylan não é apenas uma desculpa, mas um sonho que engloba o ideal de aventura, de movimento e, principalmente, de mudança.
O próprio título da obra faz referência à influência dos famosos (ídolos) na vida do menino. Os ídolos trazem, através de letras de músicas, melodias, poesias, escritos ou até pela aparência, um molde de um novo mundo inusitado, um mundo individual, porém compartilhado – e isso dá a oportunidade, principalmente para os jovens, de enxergarem pelos olhos de outra pessoa (um herói) o desconhecido.

4. A mãe (M) entra no quarto dele (T) com uma garrafa de vinho.


T- Que é isso?
M- Vinho da colônia!
T- Tá bêbada?
M- A gente não diz essas coisas pra mãe.
[...] Vamos fazer um brinde pra animar!
T- Animar o quê?
M- Sei lá, vamos fazer um brinde.
Faz um pedido.
[...] Onde é que tu aprendeu a beber assim? Tu anda bebendo na rua? [risos] Ai, o guri ficou grande!
T- E tu ficou velha.
[...] o MSN toca, indicando que alguém está falando com ele.
M- Ué, ta de mal com o mundo?
T- Não, só to cansado.
M- Cansado de quê?
T- De não fazer nada.

Nos outros filmes, o choque de gerações entre pais e filhos é, geralmente, explorado, sendo um dos principais motivos de rebeldia dos jovens. Porém, nesta obra e, principalmente, nesta cena, ocorre uma humanização da mãe, que deixa de ser a “entidade mãe” para tornar-se amiga do filho ou, simplesmente, companheira naquele momento. Sua mãe não lhe causa desconforto, embora ele seja introspectivo.

5. Diego (D) e menino sem nome (T) na ponte, após o recente suicídio da mãe do Paulinho (colega deles).

T- De novo?
D- Pior.
[...] Percorrem por assuntos cotidianos até a realidade ser comentada.
T- Diego... Olha bem pra baixo.
D- Que é que tem?
T- Não parece que tem alguma coisa que te puxa?
D- Não viaja, guri!
[...] T- Se eu pudesse, eu tirava uma foto bem na hora em que ele se jogam.
D- Pra quê?
T- Pra ver a cara deles. Pra saber qual é a cara das pessoas quando elas não podem mais voltar atrás. Pra saber se na última hora eles se arrependem ou se pensam nos outros.
[...] Eu vou cara... Decidi!
D- Quê?
T- Eu vou embora ver o Dylan, sozinho!
D- Não tem nem onde ficar, guri, tu é bem louco!
T- Foda-se! Durmo na rua, num bar, num hotel, ou nem durmo. Sabe o que é mais foda? É que depois dali, ó... Não tem mais nada. – olha para a ponte, como quem aponta para a morte.

A concepção da morte é diferente. Não convivem com a realidade violenta, e sim com as escolhas de tirar a vida - assim aconteceu com Jingle Jangle e com a mãe do Paulinho. O menino sem nome, de alguma forma, se identifica com a pressão interna, mas compreende o egoísmo e acredita que existe muita coisa para se viver e muitas pessoas a quem “devemos a vida” (por isso, a curiosidade perante as expressões das pessoas que se jogam da ponte – será que no limite de suas vidas, elas têm algum pensamento repentino que as façam enxergar além de suas percepções momentâneas?). Ao tomar a decisão de fugir, e não a radical decisão de se matar, percebemos, por outras cenas também, que ele não deixa de se importar com o que tem, apenas parte em busca de sua felicidade e em busca de mais VIDA.
Nesta cena também fica visível a sua crença de que a vida é a nossa única chance.

6. Mãe (M) e filho (T) sentados no sofá da sala, enquanto a novela passa na TV.


M- Que que tu acha?
T- Bonito...
M- É, mas tanto assim também não... Cor muito berrante, tudo muito moderno. Nem é do meu jeito. E amanhã ou depois tu nem vai poder trazer teus filhos aqui, pra ver a casa onde tu cresceu.
T- Que filhos?
M- Eu vou ser avó. Casa de vó tem que ter cara de casa de vó! Imagina? Tu voltando aqui, lembrando do teu tempo.
T- Meu tempo é agora.
M- Isso tu fala agora. Deixa os anos passarem e tu vai ver que teu tempo ficou aqui, nessa casa.
T- Tomara que não.

Aqui, nos deparamos com o contraste da concepção do tempo para um adulto e para um jovem. A visão do adulto é linear, existe o passado (com toda a sua nostalgia), o presente e o futuro (onde há uma preocupação e questionamentos em relação aos filhos). Já o jovem é adepto ao “carpe diem”, onde o tempo é representado por um eterno presente, pois ainda é cedo para olhar para o passado, e encarar o futuro ainda é difícil, significando a responsabilidade de tomar decisões e um luto sobre a juventude – este fenômeno é chamado por estudiosos de Presentismo e tende a se expandir, hoje, sobre os adultos.
Para a mãe é importante preservar esta nostalgia e materializar as lembranças na casa onde o filho cresceu; já o menino sem nome, tudo o que quer é encontrar o seu lugar longe dali, e com urgência, pois o tempo parece perdido.

Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte II

(x) sobre jovens ( ) para jovens

Análise sobre os principais tipos jovens representados:

1. Mr. Tambourine Man (menino sem nome)


Ligação com o cenário:
A vontade de viver condenada a um casulo permanente. O menino sem nome, lúcido entre aqueles que sonham em segredo – sonhar em segredo, neste caso, seria não assumir os desejos internos, suprimir estes sonhos que, confinados, levam à ilusão de satisfação, que apenas mascara toda a angústia de todos – deseja expandir sua existência que se faz tão pequena e insignificante naquela cidade interiorana na qual ele vive, onde ele sabe que não é o seu lugar. Em tempos em que a agitação é sinônimo de vida, estar confinado no “cu do mundo” é mais do que uma terrível sina, é o drama de uma juventude que só pode entrar em contato com essa realidade através da internet. Este garoto não se sente confortável em sua casa, onde há um vazio impossível de se preencher, nem em sua escola, onde lhe é imposto uma forma de se comportar que não corresponde aos seus desejos, porém, ainda sim é um lugar onde ele quer ser aceito – podemos notar isso na cena do ginásio, onde estão escolhendo os times de futebol e ele não quer jogar, mas sua expressão relata a angústia de não ser selecionado pelo grupo, de ser excluído e deixado para trás, porque ele ainda é um adolescente e precisa disso. Para piorar, tudo isto está inserido em uma cidadezinha gaúcha que foi colonizada por alemães, cenário desprezado pelo menino sem nome. O computador é seu único meio de inserir-se neste mundo com o qual sonha, que não deixa de ser sonho, afinal, a vida virtual não é uma realidade.
Personalidade (comportamento):
Mr. Tambourine Man representa uma juventude que tem ganhado espaço nos últimos tempos. A juventude entediada, introspectiva, que busca inspiração em ídolos tão inalcançáveis quanto os seus sonhos. Este personagem, caracterizado pela busca de um espaço neste mundo louco, não é apenas desconectado da cidade interiorana, mas também de todo um universo. Um exemplo é o fato dele não gostar de futebol, isso contraria a maioria dos garotos de sua faixa etária, além do próprio Brasil.
Valores:
Mesmo tendo suas razões internas para se revoltar, o menino sem nome não adere a um comportamento que poderia ser questionável. Ele é, inegavelmente, introspectivo, mas isso não esconde sua generosidade e seu respeito pelos outros, o que fica muito claro na cena em que ele visita a casa da avó. Mr. Tambourine Man tem consciência de que nada daquilo que o perturba é culpa de alguém, muito pelo contrário, são todos vítimas desta realidade que pode ser encarada de inúmeras formas. Algumas explosões e atos questionáveis para alguns, como o uso de drogas, não conferem a este personagem uma imagem negativa. É inconformado com algumas coisas, mas, para um jovem nesta situação, é um garoto controlado, consciente, bom.
Interação com personagens/fatos da trama:
Existe um fascínio por Jingle Jangle por ela ter conseguido sair daquele lugar definitivamente e, paradoxalmente, ter se eternizado na Internet. E pelo Julian, por ele ter sido uma espécie de portal que sobreviveu – parte da imagem dela permanece nele.
O relacionamento que o personagem mantêm com a mãe pode parecer superficial em alguns momentos, mas isso não deve ser creditado a nenhum dos dois, pois vivem a perda da mesma pessoa por perspectivas individuais, o que impossibilita que o vazio que paira naquela casa seja preenchido para os dois mutuamente. Enquanto ele carece de um pai, sua mãe carece de um companheiro. Ele encontrou sua "válvula de escape" no computador, que o aproxima de um mundo que não é físico, porém, mais próximo do desejado que qualquer outra coisa da qual ele possa se aproximar. Já sua mãe, "preencheu" esse vazio através da companhia da cadela Inês e de horas gastas na frente da alienadora TV.

2.Jingle Jangle

Jingle Jangle é uma personagem misteriosa. Pouco do que sabemos sobre essa garota, que aparece constantemente entre as cenas que expõe os acontecimentos que se passam com o menino sem nome, nos é apresentado em um diálogo entre Diego, seu irmão, e Mr. Tambourine Man, garoto encantado pela imagem silenciosa, mas não inexpressiva, dessa garota que não precisou de ninguém para ir embora. Assim como outros moradores dessa cidadezinha de interior, Jingle Jangle, tomou consciência de que algo estava errado por ali. Seria o lugar? Seria ela? De alguma forma, a garota sem pernas passa a se relacionar com Julian, acusado por quase todos os moradores dos arredores de ter sido culpado pelo destino trágico dela. Jingle Jangle atirou-se da ponte - assim como Julian que, por motivos desconhecidos, sobreviveu – mas, antes, eternizou-se na internet através de vídeos e fotos muito curiosos, que significam muito se forem observados com olhos atentos. Mesmo que ela tenha morrido, é tida pelo menino sem nome como inspiração, pois de uma forma ou de outra, ela se libertou daquela realidade tão opressora para alguns. Por que Jingle Jangle se matou ao invés de fugir? Não sabemos nem ao mesmo se o seu desejo primordial era sair dali, mas, se fosse, talvez o medo tenha sido decisivo na sua escolha.

É totalmente válido conferir alguns vídeos da "garota sem pernas":

Um dos estranhos vídeos mostra-a sendo sujada por Julian, que ainda carrega em si alguma coisa que restou dela, assim como a internet. Em outro, vemos ela sendo, tecnicamente, sufocada por ele – num sentido figurado, isso tudo pode significar a influência dele em sua personalidade. No entanto, não podemos julgá-lo como a pessoa que “sujou-a”, levou-a para o triste fim, pois em nenhum dos vídeos Jingle Jangle mostra-se receosa ou contrária ao que é feito consigo, sendo que em alguns ela inclusive sorri e parece divertir-se.

Tuane Eggers, a atriz que interpreta Jingle Jangle, tem um trabalho interessantíssimo como fotógrafa, inclusive, foi responsável pelas fotos que aparecem no filme, o que nos causa um certo estranhamento, pois não conseguimos distinguí-la da personagem. Vale a pena conferir suas outras fotografias no link: http://www.flickr.com/photos/uncolortv/

3. Diego

Diego aparece colando na prova do colégio, quer transar e procura na droga uma forma de acabar com o tédio. Representa um jovem cansado da impessoalidade da Internet e que almeja, ainda que naquela cidadezinha, viver experiências típicas juvenis; e é assim que lida com o fato de ter nascido lá: aproveita como pode o que lhe é possível, afinal, não se sente deslocado entre os outros jovens locais e já está conformado e acostumado com a sua condição perante a distância do movimento global.

Interação com personagens/fatos da trama:



Tem uma grande amizade com Mr. Tambourine, embora ambos tenham desejos diferentes. É filho da professora da escola local e irmão da suicida Jingle Jangle, por isso, tem ódio de Julian, assim como o resto da cidade.

Valores e dilemas juvenis



O mundo paralelo está em movimento e existem meios de comunicação e mídias que o levam a enxergar isso, porém, seu corpo está preso a um lugar onde predomina o marasmo. Mesmo havendo outros jovens no local, que se divertem como podem, o garoto sem nome almeja mais do que isso, pois não procura a diversão e, sim, uma espécie de libertação.
“Parecia que tu tava em outro tempo”, disse Julian para o menino sem nome ao ver-lo girando.

Os Famosos e os Duendes da Morte - Parte I


Título Original: Os Famosos e os Duendes da Morte
Direção: Esmir Filho
Roteiro: Esmir Filho e Ismael Caneppele
Origem: Brasil, França
Ano de lançamento: 2009
Duração: 101 minutos
Elenco:
Henrique Larré (Mr. Tambourine Man/Menino sem nome)
Ismael Caneppele (Julian)
Tuane Eggers (Jingle Jangle)
Samuel Reginatto (Diego)
Áurea Baptista (Mãe do menino sem nome)

Dirigido por Esmir Filho e baseado no livro "Os Famosos e os Duendes da Morte" de Ismael Caneppele, este filme trata de juventudes oriundas de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. O mundo inteiro em constante progresso e movimento chega apenas em imagens para estes jovens que conectam a internet a fim de encontrar os seus lugares ideais. Em especial, uma juventude muito particular é representada pelo menino "sem nome", o protagonista desta história, que tem uma ligação curiosa com Julian e Jingle Jangle.
Julian é um homem misterioso que sobreviveu ao tentar se suicidar jogando-se da ponte com a irmã do amigo do menino sem nome (Diego), a Jingle Jangle - esta morreu. Porém, vídeos e fotos foram deixados na internet, e o menino sem nome (conhecido no mundo virtual por "Mr. Tambourine Man", por causa da música do Bob Dylan), de alguma forma, se identifica com essas imagens. Assim, mesmo que a cidade inteira julgue Julian pela sua suposta influência na morte de Jingle Jangle, Mr. Tambourine acredita que Julian tenha sido apenas um portal de libertação para a menina (que também carrega um nome virtual por causa de Bob Dylan).
É difícil contar esta obra através de fatos já que as emoções são muito mais visuais e perceptíveis sem ajuda das palavras, porém, há escritos poéticos declarados pelo menino sem nome que serão postados para auxiliar a compreensão do que se passa aos olhos deste garoto.

sábado, 2 de outubro de 2010

Garota Infernal - Parte III

Análise de cenas e/ou diálogos relevantes:

1) Jennifer busca Needy para irem ao show

Needy se prepara para o Show para o qual foi “convidada” por Jennifer. Sua grande preocupação é fazer com que a amiga não sinta vergonha de sua aparência, ao mesmo tempo em que não pode ofuscá-la, o que nos revela uma característica comum das garotas nesta fase: a competitividade pela atenção. Mesmo sendo uma personagem de personalidade forte, Needy age como se sentisse intimidada por sua amiga infernal, não se importando com as alfinetadas e comentários desagradáveis dela sobre o seu namorado, capaz de perceber os defeitos de Jennifer que Needy teima em não ver.


Durante o show, um pequeno grande detalhe: as duas unem as mãos. O que para a futura comedora de corpos não significou nada levou sua amiga a um momento de extrema realização. A obsessão que Needy nutre por Jennifer se evidencia em cenas como esta, onde um simples toque mostra-se como uma forma de entrar em contato com o ser do qual ela depende e, consequentemente, o desejo de que esta pessoa apresente sensações recíprocas.



2) Tensão na sala de aula

Talvez, esta seja uma das únicas cenas onde o contato com a juventude super atual que circula pelo fundo das cenas se concretiza. Uma oposição de opiniões acerca de um anúncio do professor (a banda que estava fazia show no dia do incêndio decidiu doar 3% dos lucros de uma música para as famílias que tiveram perdas no acidente) expõe a forma com a qual uma adolescente, que ouso classificar como um dos melhores estereótipos da nossa geração, constrói suas “verdades”, seus valores, sua forma de encarar sua realidade. Este tipo representado, seguidora de modismos, defende uma verdade absoluta baseada no que leu no Wikipédia, pois, se está lá, é incontestável. É possível concluir que facilidades trazidas pela tecnologia são, em alguns momentos, causadoras de alienação profunda, levando jovens a aceitar o que lhes é fornecido como bom e verdadeiro sem que esses desenvolvam um pensamento crítico sobre o “incontestável”.

3)Beijo Lésbico


A cena polêmica, que provavelmente serviu para arrastar mais espectadores para as salas de cinema, onde as duas protagonistas se beijam após alguns acontecimentos estranhos é, entre outras coisas, uma peça importante na composição dessas personagens. Ao saber que Jennifer e Needy costumavam fingir/brincar ser um casal de namorados aprofunda o significado que uma tem para a outra. A amizade, que se iniciou na infância, e que poderia ter acabado aos poucos graças à formação de duas pessoas completamente distintas permanece forte. Talvez, elas não sejam similares em personalidade, valores, entre outros aspectos, mas tiveram contato com o mundo juntas, inclusive na experiência da descoberta sexual. O beijo inesperado e recíproco dá outra proporção à obsessão de Needy por Jennifer.