domingo, 13 de fevereiro de 2011

Antes que o Mundo Acabe - Parte II

Análise de cenas relevantes:


1. Conversa entre Daniel (D) e seu padrasto-pai (A), Antônio, quando o garoto chega em casa com uma fisionomia chateada.


A- O que foi? Aconteceu alguma coisa?
D- Meu melhor amigo tá sendo acusado de ladrão por minha causa, tem um cara aí que diz que é meu pai e roubaram a minha bicicleta.
A- Nesse caso, só há uma coisa a fazer.
D- O quê?
A- Pão!
[...]
A- Que mal o pão te fez? (ao ver o menino socando a massa)
E a Mim?
D- Sei lá.
A- Sei lá quer dizer que ela tá bem? Ou que tu é que tá mal?
D- Pode ser.
A- Pode ser quer dizer que sim ou que não? Vocês brigaram?
D- É. Sim e não.
A- Agora eu não entendi. Sim ou não?
D- Ah...Ela é muito complicada.
A- Se mulher não fosse complicada, que graça teria? Até parece que tu é a pessoa mais resolvida do mundo.
D- Mas eu não sou? Uma hora ela quer, outra hora não quer


A dificuldade de diálogo entre as gerações é, claramente, mostrada na cena/diálogo que segue um evento (Daniel presencia um momento de interação entre seu melhor amigo e a garota que ama e, ao se retirar do ambiente, percebe que teve sua bicicleta roubada) que perturba o jovem. Ao chegar em casa irritado, seu padrasto tenta descobrir o que se passa. Enquanto o adulto espera respostas diretas e uma interpretação pragmática dos fatos, o adolescente não consegue ser claro por duas razões. Uma delas é a própria falta de compreensão do que sente perante os acontecimentos e a outra é a falta de crença na interpretação e percepção do adulto, aparentemente, sempre tão diferente da dos jovens. É interessante notar que, ao ser questionado, Daniel não diz que está enfrentando problemas em seu relacionamento e prefere expor aquilo que menos o chateia no momento, mas, no fim das contas, também contribui para sua confusão. Aqui, também temos alguns traços da personalidade dos personagens revelados. A indecisão e inconstância da namorada são, para Daniel, uma grande complicação, mas, aparentemente, ele não se diferencia muito dela nesses aspectos.

2. Daniel (D) e Antônio (A) depois do primeiro porre do garoto.


D- Tu nunca tomou um porre?
A- Na tua idade, não.
D- Na minha idade tu recebia e-mail? (silêncio)


Discussão: Com base nos filmes já analisados e vistos (recentes e antigos), será que a juventude atual é, de fato, mais avançada em questão de experiências? Hoje o jovem tem acesso ao mundo virtualmente e essa velocidade de informação, com certeza, influencia o nosso modo de vida; porém, em diversos filmes, observamos a proliferação de drogas, ideais revolucionários, música e tudo mais numa geração a partir de seus 14, 15 anos. Sabemos também que é tendência considerar um adolescente até cada vez mais tarde, mas também temos a informação de que as experiências comuns como o primeiro beijo, transa e tudo mais têm ocorrido cada vez mais cedo na vida de um jovem. Essa questão é uma incógnita para nós – pesquisaremos em breve alguma teoria que a resolva.


3. Daniel escrevendo para o pai distante:







Uma das situações mais delicadas do filme é o contato entre o Daniel-pai e o Daniel-filho. Esta cena mostra o primeiro retorno de Daniel (ou tentativas de como retornar) às cartas que o pai manda. Em minha opinião, é a cena que mais consegue retratar o sentimento que o menino tem em relação a esse pai distante e de um jeito muito interessante que nos transmite a aflição do adolescente. Primeiramente, ele pensa em iniciar a carta com a pergunta trivial “Pai, você é canhoto?”, que não chega a ser uma grande curiosidade, mas sim, uma maneira singela de começar a conhecer alguém. Depois, ele digita “Pai, você já tomou um porre?”, onde enxergamos um desejo de compartilhar aquela nova situação com a figura paterna. As perguntas seguem aprofundando o que, de fato, o garoto quer dizer a este pai, chegando à questão crucial “Pai, por que”.


4. Diálogo entre Mim (M) e Daniel (D) durante a formatura.

M- Daniel, tu não vai esperar para receber o diploma?
D- Não... Tu já sabia?
M- O quê?
D- Tu já sabia que o Lucas tinha roubado o laptop?
M- Ele não roubou, Daniel!
D- Sabia ou não sabia? Naquele dia, na beira do rio, tu já sabia?
M- O Lucas não ia roubar o laptop, ele só pegou pra fazer o meu CD. Aí, quando ele foi devolver no outro dia, o laboratório tava todo quebrado. Os padres não deram a menor chance, já foram logo chamando ele de ladrão...
D- Quando a gente foi pra Porto Alegre, tu já sabia?
M- E também qual é a diferença de roubar três balas e um laptop? Roubar três balas pode?
D- Sabia ou não sabia?
M- Sabia.


Esta juventude provinciana e, por vezes, infantilizada, apresentada no filme da diretora gaúcha, é mostrada desenvolvendo suas premissas acerca do que é certo e daquilo que é errado. O diálogo, extraído de uma das últimas cenas do filme, questiona o ato de roubar. Seria algo condenável em sua essência ou, dependendo dos fatores envolvidos, uma ação perdoável? A presença desse tipo de discussão é, realmente, bem interessante para a composição da representação desses jovens, afinal, estão estabelecendo suas primeiras reações perante situações delicadas, que não eram complicadas ou até presentes na infância, e mexem com a "moral relativa".

Um comentário:

  1. eu adoro esse filme eu já perdi as contas de tantas vezes que assisti esse filme.esse filme me inspira, quero ser uma grande fotógrafa esse é meu maior sonho por isso ele me inspira hehehe!!!

    ResponderExcluir